quarta-feira, 27 de julho de 2011

Bartitsu: a arte eclética de Barton-Wright (parte I)

Uma resposta à violência urbana na Inglaterra do século XIX




Edward William Barton-Wright (1860-1951) nasceu em Bangalore, Índia; sua mãe era escocesa e seu pai, inglês, era engenheiro de ferrovias. Barton-Wright era um entusiasta das artes marciais; aprendeu boxe, savate, wrestling, esgrima e o manejo do stilleto, sempre tendo em vista a funcionalidade das técnicas.

A trabalho, esteve no Japão entre ca. 1893 e 1897, aproveitando a oportunidade para aprender judo e dois estilos de jujutsu. Trouxe esta aprendizagem à Inglaterra onde, fundindo-a com seus conhecimentos prévios, criou o Bartitsu (junção de seu nome com jitsu, uma mistura eclética de artes marcias destinada à defesa pessoal. Propagou seu estilo como “a arte cavalheiresca da autodefesa” (the gentlemanly art of self defense), uma forma de proteção contra as frequentes agressões de gângsters que aterrorizavam os habitantes das grandes cidades inglesas [8]. Como bom engenheiro, Barton-Wright parece não ter criado nada de estritamente novo. Seu mérito foi coletar e selecionar múltiplos conhecimentos marciais para dar uma solução que, além de eficiente contra a violência urbana, estivesse adaptada aos cidadãos ingleses das classes média e alta.

Em um artigo para uma revista, Barton-Wright escreveu:

(...) I have introduced a new style of self-defence, which can be very terrible in the hands of a quick and confident exponent. One of its greatest advantages is that the exponent need not necessarily be a strong man, or in training, or even a specially active man in order to paralyse a very formidable opponent, and it is equally applicable to a man who attacks you with a knife, or a stick, or against a boxer; in fact, it can be considered a class of self-defence designed to meet every possible kind of attack, whether armed or otherwise.
(...) The explanations which follow, with the assistance of the photographs reproduced, will show what a weak man with a knowledge of leverage and balance can do against a stronger man than himself who has not the same knowledge. (...)
You may say that it will be impossible to get the assailant into the positions shown, but it must be borne in mind that you are not seeking a quarrel or attacking, but simply defending yourself.
It is quite unnecessary to try and get your opponent into any particular position, as this system embraces every possible eventuality and your defence and counter-attack must be based entirely upon the actions of your opponent. The illustrations only show how to defend yourself against some of the more common forms of attack. [6]

Apesar dos esforços de catalogação do seu método, observa-se nas declarações acima que Barton reconhecia a necessidade de adaptação em situações reais.

Documentação das técnicas de autodefesa 
(colagem com fotos de [6] e [17])


Localizada em Londres, a academia fundada por Barton-Wright também foi inovadora ao permitir que mulheres aprendessem a sua arte de autodefesa, para o que foi necessário adaptar algumas técnicas. Àquela época, as mulheres inglesas das cidades começaram a reivindicar condições de igualdade entre os sexos; crescia a representação feminina nos esportes e iniciava-se a campanha das sufraggettes pelo direito ao voto. [10]

Colagem com fotos de [7], [8] e [10]


A sociedade inglesa na Era Vitoriana: o contexto do surgimento do Bartitsu

O reinado da Rainha Victoria, que durou de 1837 até a sua morte em 1901, marca a denominada Era Vitoriana do Reino Unido. Sob os efeitos da Revolução Industrial, a população da Inglaterra praticamente dobrou em 50 anos, saltando de 16,8 milhões em 1851 para 30,5 milhões em 1901. Apesar da prosperidade econômica, a industrialização gerou intenso deslocamento da população rural para as cidades, que passaram a crescer desordenamente com problemas de violência e saneamento básico. [1]

Os mais pobres se aglomeravam nos subúrbios em casas velhas e desconfortáveis. As classes média e alta começaram a conviver com elementos típicos de uma cidade: anúncios de publicidade (em grande parte destinados à venda de sabonetes), modismos e notícias sensacionalistas, que alardeavam o crescimento da violência urbana. Entre os modismos da época, estavam o interesse pela cultura oriental e a disseminação da cultura física (physical culture). Para as pessoas mais ricas, a Revolução Industrial trouxe o indesejado problema do sedentarismo, e foi neste contexto que as academias de ginástica ganharam popularidade. O ditado latim “mente sã em corpo são” virou o mote de muitas escolas para meninos. Era bem-visto que a educação moral e religiosa fosse vinculada à prática de exercícios físicos [8]. 

Ilustração de uma academia de ginástica da época [8]


Referências:

[1] Wikipedia. Victorian era. <http://en.wikipedia.org/wiki/Victorian_era>.
[2] Wikipedia. Social history of England. <http://en.wikipedia.org/wiki/Social_history_of_England>.
[3] Wikipedia. Edward William Barton-Wright. <http://en.wikipedia.org/wiki/Edward_William_Barton-Wright>.
[4] Wikipedia. Bartitsu. <http://en.wikipedia.org/wiki/Bartitsu>.
[5] Wikipedia. Pierre Vigny. <http://en.wikipedia.org/wiki/Pierre_Vigny>.
[6] E. W. Barton-Wright. How a Man may Defend Himself against every Form of Attack. Originally published in Pearson's Magazine, March 1899. <http://ejmas.com/jmanly/articles/2002/jmanlyart_Barton-Wrighta_1202.htm>.
[7] Graham Noble. An Introduction to E. W. Barton-Wright (1860-1951) and the Ecletic Art if Bartitsu. <http://ejmas.com/jmanly/articles/2001/jmanlyart_noble_0301.htm>. Journal of Manly Arts. Mar 2001.
[8] Tony Wolf. The Origins of Bartitsu. <http://www.bartitsu.org/index.php/the-origins-of-bartitsu/>. 15 Jan 2007.
[9] James. The Bartitsu Club, 1899-1902. <http://www.bartitsu.org/index.php/the-bartitsu-club-1899-1902/>. 22 Aug 2008.
[10] Tony Wolf. The Bartitsu Legacy. <http://www.bartitsu.org/index.php/the-bartitsu-legacy/>. 15 Feb 2007.
[17] E. W. Barton-Wright. Self-defense with a walking-stick: the different methods of defending oneself with a walking-stick or umbrella when attacked under unequal conditions. Pearson’s Magazine, 11 (Jan 1901), 35-44. <http://ejmas.com/jnc/jncart_barton-wright_0200.htm>, < http://ejmas.com/jnc/jncart_barton-wright_0400.htm>.

(Todos os links acessos em 21 jul 2011)

Um comentário: