Dúvidas

Os Systema possui uma filosofia diferenciada e é ainda pouco divulgado, o que dá margem a dúvidas e preconceitos. Algumas perguntas típicas foram selecionadas; use o espaço para comentários para expor outras questões.  


1. Se o Systema tem grande preocupação com ataques reais, por que há tantos vídeos com ataques lentos e colaborativos?
O treino em velocidade real também existe, mas existem benefícios que somente a diminuição de velocidade proporciona. Como em qualquer atividade na vida, ao diminuirmos a velocidade podemos apurar a observação e a compreensão das possibilidades e dos detalhes envolvidos, melhorando o senso crítico de nossas escolhas. Em ritmo mais devagar, analisamos a eficiência dos movimentos e julgamos com mais consciência os seus futuros efeitos. É como se estivéssemos afiando o machado, de sorte que se a velocidade do ataque fosse aumentada, o praticante já estaria munido com suficiente conhecimento prévio, sendo capaz de dar uma resposta segura e eficiente sem gastar muito tempo com dúvidas do tipo "o que fazer agora?". A situação é análoga ao de um estudante realizando um exame escrito: se ele tiver bons conhecimentos prévios, perderá menos tempo para elaborar uma resposta adequada.


2. Se no Systema o praticante não executa respostas padronizadas à exaustão, como garantir que ele faça a coisa certa no momento de perigo?
Respostas padronizadas se encaixam bem para respectivos problemas padronizados. Ou seja, para que determinado movimento de defesa funcione bem, é necessário que o agressor se comporte de uma forma muito específica. Existem pessoas mais altas, outras muito mais pesadas,  outras muito menos sensíveis à dor, e outras muito mais rígidas do que o comum - estes são exemplos típicos que obrigam a adaptação das técnicas para que estas permaneçam funcionais. Também há o problema da variação de armas, de posições e de outros fatores do ambiente.
Portanto, ao invés de memorizarmos respostas padronizadas, procuramos melhorar a capacidade de adaptação e escolha do repertório, e isso ocorre gradativamente à medida que treinamos com pessoas diferentes e em em situações diferentes, sem podar o ataque ou a reação do agressor. 
É como se tivéssemos que formar um músico com alta capacidade de improviso: em vez de obrigá-lo a memorizar partituras estáticas, damos a ele um bocado de teoria e expomo-no à imprevisibilidade das apresentações ao vivo. À medida em que a habilidade e o repertório de respostas aumentam, as improvisações se tornam cada vez mais rápidas e satisfatórias. A intuição ("feeling") é essencial e melhora com a prática.


3. É preciso se submeter a muita dor para poder praticar o Systema?
O objetivo principal das técnicas não é a dor, mas ela pode exercer um papel funcional na luta. Por isso é importante que se aprenda a trabalhar bem com ela: não basta saber aplicar as técnicas; é preciso saber na pele como o outro se sente. Caso contrário, estaríamos agindo às cegas.
Com respiração, relaxamento e movimentação, aprendemos a amenizar a dor e a administrar os incômodos físicos e psicológicos. A intensidade das técnicas contundentes é aumentada somente à medida da capacidade do praticante em recebê-las, sem o que o treinamento não faria sentido. Em caso de dor excessiva, não há problemas em pedir ao parceiro de treino que reduza a intensidade dos impactos.


4. Que tipo de roupa é adequada para o treinamento?
Roupas confortáveis e resistentes, que não atrapalhem a movimentação. A roupa deve ser adequada para rolamentos, movimentação no solo e agarrões.


5. Se uma pessoa está bem treinada em defesa pessoal, ela deve reagir sempre?

Antes de falar em reação, é de suma importância compreender que a grande maioria dos atos violência urbana pode ser evitada através do comportamento preventivo (leia a cartilha de segurança pessoal da PM-SP). O criminoso não quer chamar atenção, por isso escolhe as vítimas mais fáceis: desatentas, mal posicionadas ou ostentando sinais de riqueza.
A instrução tradicional dos órgãos de segurança pública é não reagir. Sabendo que 80% das vítimas que reagem contra criminosos armados acabam baleadas, a não-reação é uma opção sensata quando o ladrão tem interesse unicamente em bens físicos (dinheiro, cartões de banco, relógios, automóveis etc), afinal a vida da vítima é o bem prioritário a ser protegido.
Entretanto, há casos em que o agressor força a vítima objetivando estupro, sequestro ou assassinato, não raro tentando levá-la de carro para outro lugar menos movimentado, onde não há ninguém que possa atrapalhar a ação do criminoso. O caso pode ser ainda mais complicado quando estão envolvidos amigos, crianças ou parentes na cena do crime. Nestes casos, a reação pode impedir a morte ou sequelas graves, e por isso pode se tornar uma atitude sensata caso a vítima esteja bem treinada em defesa pessoal. A reação sempre tem um risco alto, mas este deve ser comparado ao risco de não reagir quando a intenção do agressor vai além de objetos físicos.
Convém lembrar que, no Brasil, as abordagens costumam ser executadas por mais de uma pessoa. A existência de um comparsa nem sempre é facilmente detectável; a vítima deve estar ciente disto ao optar pela reação.


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