domingo, 17 de julho de 2011

Eficácia e improvisação

A filosofia do Systema para lidar com a imprevisibilidade das agressões reais 


No Systema, o praticante sempre tem a chance de estudar, avaliar e escolher as ações. Estudamos tanto os movimentos suaves quanto os contundentes, em velocidade devagar ou rápida. Estamos sempre atentos à funcionalidade e à eficiência das decisões em um cenário real, evitando desperdício de energia e aproveitando ao máximo cada movimento. O Systema nasceu de aplicações militares, daí a preocupação com a eficiência ou rendimento energético: atingir um certo resultado com um mínimo de esforço, ou atingir o máximo de resultados com um certo esforço.


eficácia
 (lat efficacia1 Qualidade daquilo que é eficaz. 2 Qualidade daquilo que produz o resultado esperado; eficiência.
eficiência
 (lat efficientia1 Ação, capacidade de produzir um efeito; eficácia. 2 Mec Rendimento.

Fonte: Dicionário Michaelis

Quase sempre podemos aproveitar algum movimento do agressor, adequando o nosso corpo ao corpo do adversário, o que se mostra muito eficiente. Outras vezes, uma iniciativa se faz necessária, como é o caso de ataques preventivos, escape de imobilizações e situações com reféns. Ao optarmos pela proatividade, devemos conhecer a mecânica do corpo humano e das armas sem as restrições das regras. Caso contrário, gastaremos tempo e energia com ações ineficazes, enquanto o agressor continua a nos atacar. 

A vasta maioria das artes marciais que conhecemos hoje enfocam o uso da força para impor resultados sobre o oponente, ou restringem fortemente a distância e as partes do corpo que podem ser usadas. Nos esportes esta abordagem costuma fazer sentido, visto que há objetivos claros a serem conquistados e regras claras a serem cumpridas. Em situações reais, porém, os objetivos não estão pré-definidos e as restrições são abstratas. Frente a uma ameaça real, podemos escolher um entre inúmeros objetivos (não reagir ou reagir, fugir, imobilizar, machucar etc) e observamos restrições das mais diversas (consequências jurídicas; condições de luminosidade, de temperatura e de terreno; características do agressor, como altura, peso e grau de sobriedade; disponibilidade de objetos - pedras, agasalhos, garrafas e qualquer arma em potencial).


Russian training system - Ability to fight


Ao treinar uma arte marcial, é de suma importância questionar os objetivos pessoais e avaliar para que tipo de situação estaremos bem treinados. É essencial ter a consciência de que a roteirização dos ataques, das técnicas de defesa e das condições do ambiente podem não simular bem as condições reais: o assaltante pode ter uma faca ou um revólver, pode estar acompanhado, pode atacar pelas costas e não ter receio em usar golpes "sujos" ou inesperados. Fora da academia as condições variam muito, e os locais públicos por vezes impõem o encurtamento indesejável da distância entre as pessoas.

[imagem - situações controladas vs não controladas]

Se vc tem experiência com alguma arte marcial, certamente já foi surpreendido com algo que saiu do roteiro e, por consequência, não soube como agir. Um ataque mal executado, um golpe sujo ou uma reação atípica do oponente são exemplos comuns. Por alguns instantes, o lutador vacila ou paralisa - não ocorrerá nenhuma fatalidade em um ambiente controlado, mas nas ruas esta pode ser a diferença entre a vida e a morte.   

Não temos o costume de treinar uma mesma técnica de forma repetida e padronizada, mas sim de repetir cenários sem podar a imprevisibilidade das variações. Em agressões reais, não existem duas situações idênticas nem dois agressores que (re)agem exatamente da mesma maneira, portanto não nos preocupamos em memorizar respostas prontas para cada caso específico. A ideia é que, se nos submetermos a uma enorme variedade de situações, teremos melhores chances de oferecer uma resposta suficientemente funcional e rápida a um ataque real, que nunca é premeditado. Por esta razão, no Systema se treina ataques de diferentes distâncias, em diferentes posições (em pé, sentado ou no solo), de diferentes tipos (agarrões, socos, chutes, chaves, etc) e sem restrição de alvos, podendo o agressor estar armado (facas, bastões, correntes etc) ou desarmado, acompanhado ou só.



Nenhum comentário:

Postar um comentário