domingo, 17 de julho de 2011

Respiração, relaxamento, movimentação e postura

Os fundamentos que dão corpo ao Systema e que se extrapolam para a vida do praticante


Respiração, relaxamento, movimentação e postura são os quatro fundamentos do Systema: eles se complementam e devem ser simultâneos. Com estas quatro palavras, algumas coisas ficam subentendidas e são verdadeiras:

- não há alusão ao que culturalmente esperamos do combate: coragem, força muscular, persistência etc;
- os fundamentos remetem à expressão natural do corpo humano; e
- as orientações são pouco restritivas e podem valer para situações do dia a dia.

Apesar de aparentemente irrelevantes, estes quatro princípios explicam a eficiência do Systema pelos dois lados: aumento de resultados e diminuição dos esforços. Esta abordagem guarda fortes semelhanças com a filosofia taoísta exposta na obra Tao Te Ching de Lao Tsé. Tradicionalmente aprendemos o oposto: que para conquistar mais resultados é obrigatório se esforçar mais, e que o esforço por si só é meritoso - mesmo quando não acompanhado de resultados.

A vontade de resistir e impor uma derrota sobre o outro está atrelada a uma carga emocional de apego à vitória, e resulta que o adversário encontra um "espelho": alguém com quem consegue brigar e medir forças. Esta problemática é bastante citada pelo budismo. No Systema, boa parte dos movimentos se deve ao "deixar acontecer", aproveitando as próprias situações geradas pelo agressor e sabotando a sua 
vontade de brigar. 


(Clique na imagem para ampliá-la)

A atenção à respiração é um pré-requisito para superarmos o medo e o pânico. Sem a respiração, não conseguimos raciocinar nem relaxar, e o problema toma proporções maiores enquanto nos debatemos em desespero. Esta temática é muito explorada pelas escolas de yoga e, por incrível que pareça, tem relevantes aplicações marciais. Note também que a respiração e o relaxamento, para se tornarem constantes, estão atrelados a um condicionamento psicológico. Este estado mental é propício à liberdade, ao improviso e à criatividade, necessários para responder com desembaraço e rapidez às agressões reais, que sempre são distintas e não seguem roteiros.

O iniciante que começa a incorporar estes quatro fundamentos logo percebe que eles são surpreendentemente funcionais, de sorte que é difícil evitar que eles se extrapolem para a vida cotidiana do trabalho e da família. Nos treinos, o iniciante questiona a validez da força muscular e da rigidez para lidar com a violência, e acaba percebendo que o relaxamento, em contrapartida, é mais efetivo. Na vida, acabamos questionando diversos aspectos, como a efetividade das decisões unilaterais e a busca aflita de objetivos rígidos. Nos treinos, estamos sempre a observar e a aceitar situações novas, e é importante que esta flexibilidade passe a ser aplicada também aos problemas cotidianos. Esta atitude de relaxamento tem tudo a ver com expressões do tipo "dar uma volta para respirar um ar fresco", ou "fulano tem cabeça fresca": é exatamente este o espírito que buscamos desenvolver, sem abrir mão da responsabilidade e da segurança.

Nos treinos, as ações são estudadas e jamais executadas a esmo. Esta atitude crítica incita o praticante a analisar a sua conduta de vida e a questionar os seus porquês e os seus efeitos sobre terceiros. Não há como ter absoluta certeza de algo, mas sempre podemos aumentar a compreensão. Por consequência, a tendência é reavaliar as maneiras como atingimos nossos objetivos, bem como a validez destes objetivos, seja no aspecto pessoal, social, profissional ou afetivo.


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